Travessia Trilha do Ouro - Serra da Bocaina
28/01/2015

Travessia Trilha do Ouro - Serra da Bocaina

Mais um relato surgindo no "Conte sua Aventura no Brasil" e esse é sobre uma das caminhadas mais clássicas do país, a Trilha do Ouro no Parque Nacional da Serra da Bocaina. Quem vai contar essa aventura é a Adriana Lima do blog Da Porta Pra Fora. Na época, esta foi a primeira trilha de longa duração feita pela Adriana e isso gerou muita aprendizagem pra ela, tanto que ela continuou na vida de trilheira e fez muitas outras, como a Trilha do Bonete em Ilhabela e Trilha das Sete Praias em Ubatuba.

A Trilha do Ouro é fantástica para quem gosta de natureza e aventura. Neste relato a Adriana irá nos contar como foram os seus 3 dias de caminhada por entre as cachoeiras, rios, montanhas e toda a história que circunda este trajeto na Serra da Bocaina.

Por: Adriana Lima - Da porta pra fora

O ano era 2008. A ideia era fugir do carnaval e estar em contato com a natureza.  Já fazíamos trilhas em parques, mas sempre bem curtas. Caminhar o dia todo com mochilão e camping selvagem eram novidades. Era deliciosamente assustador na verdade.  Do grupo de 8 que participou, conhecia apenas 2 pessoas, as outras nem de vista. Um fala com outro que conhece um amigo e em 3 dias organizamos tudo. Compramos comidinhas pra trilha, isolante térmico e contratamos uma van. Tinha chegado a hora de conhecer o Parque Nacional da Serra da Bocaina, íamos fazer a tão falada Trilha do Ouro. Com 104 mil hectares, o parque é uma das maiores áreas protegidas da Mata Atlântica. É um trecho da Serra do Mar, na divisa entre os estados do Rio de Janeiro e São Paulo.

A travessia da Serra da Bocaina, conhecida também como Trilha do Ouro, liga São José do Barreiro, no extremo Leste de São Paulo a Angra dos Reis no Rio de Janeiro. Era o antigo caminho de Mambucaba, que liga o Vale do Paraíba ao litoral fluminense, originalmente aberto pelos índios. É um trekking clássico e moderado para trilheiros experientes,  mas pra gente seria a primeira grande aventura nessa modalidade. E foi. Tanto pela inexperiência quanto pelas adversidades do tempo, a caminhada foi bem difícil. Apenas no 1o dia teve Sol, choveu torrencialmente nos outros. Primeira dica: evite ir em pleno verão.

Chegamos bem cedinho a São José do barreiro e logo seguimos para a portaria do parque, onde assinamos uns papéis e pegamos nossa autorização para a trilha.

Em menos de 1 hora de caminhada, cerca de 1,5 km a partir da portaria já encontramos a  majestosa, geladíssima e inesquecível Cachoeira do Santo Isidro. Pra chegar até seu poço, tem que pegar uma entradinha à esquerda na trilha principal. A partir daí são 10 min descendo numa trilha bem íngreme, mas tem um corrimão pra ajudar os caminhantes. A Santo Izidro fica a 1.400m de altitude e uma queda de mais de 50m de altura. Lá embaixo tem uma prainha perfeita pra se abastecer de energia pro resto da trilha.  

Cachoeira Santo Izidro - Trilha do Ouro Serra da Bocaina

Cachoiera Santo Izidro - Trilha do Ouro

Poço da Cachoeira Santo Izidro - Trilha do Ouro

Poço da Cachoeira Santo Izidro - Trilha do Ouro 

Voltando pra trilha principal, depois de mais 2 horas de caminhada chegamos ao acesso pra Cachoeira das Posses. Aqui também visitamos as ruínas de uma antiga fazenda, provavelmente da época do café na região.

Os acessos são bem sinalizados e leva mais ou menos 15 min pra chegar ao poço. Com cerca de 30m de altura, Cachoeira das Posses é igualmente gelada e convidativa.

Cachoeira das Possses Trilhas do Ouro

Cachoeira das Posses - Trilhas do Ouro

Depois dessa água toda, seguimos caminhando e no total dia foram cerca de 19km em 8 horas de caminhada, parando nas cachoeiras e tirando fotos do visual. O dia foi tranquilo porém muito cansativo devido ao peso das mochilas. Avistar o lugar de descanso foi um bálsamo pra todo mundo. No primeiro dia a trilha é mais aberta e tem-se um panorama espetacular das montanhas, algo realmente lindo de presenciar.

Pernoitamos no quintal da dona Palmira, que também oferece quartos compartilhados e comida caseira.  Tomamos banho gelado numa bica que tinha ali perto e montamos a barracas. Devidamente limpos e bem alimentados fomos dormir. Aqui começaram os perrengues. Choveu a noite inteira e entrou água na barraca, provavelmente por conta da nossa inexperiência. Levantamos bem cedinho, arrumamos tudo e seguimos.

E se no primeiro   dia o caminho era relativamente leve apesar das subidas, no segundo começaram a aparecer as descidas. Dica: cuide bem de seus joelhos. Antes, durante e depois da trilha. Com a chuva que caiu durante a noite, naturalmente a estradinha de terra virou um lamaçal. O dia inteiro foi um festival de escorregões e tombos. Seria divertido se não tivéssemos que caminhar mais de 8 horas carregando quase 10kg nas costas, eu juro!  As botas ficaram pesadas de tanta lama grudada. Mesmo assim, conseguimos aproveitar bastante a caminhada. Foi um longo dia de contemplação e suspiros com os detalhes encantadores da Bocaina.

Vista das Montanhas da Trilha do Ouro

Vista do Vale e das Montanhas da Trilha do Ouro

Flor na Trilha do Ouro

Linda Flor - Trilha do Ouro

Depois de um trecho de subida, a estrada começa a descer de novo, a partir daqui a mata fica mais fechada e aparece um trecho do calçamento colonial. Muito interessante e com indiscutível valor histórico-cultural, porém nada confortável para uma longa caminhada com chuva. Aconselhamos que você leve bastões de caminhada ou arrume um pedaço de galho de árvore, pois facilita bastante a locomoção. Seus joelhos agradecem. Outra dica importante e que você pode acabar descobrindo da pior maneira, é que você não pise diretamente nas pedras do calçamento e sim entre essas. Acontece que fica tão escorregadio que parece uma competição de patinação no sabão e tome tombos pra todos os lados. Passamos por belíssimas araucárias, alguns descampados e atravessamos pinguelas, que são pequenas pontes feitas de troncos.  Passamos por um casarão bonito com lago na frente e nos disseram que trata-se da Fazenda Central. Já de tarde atravessamos o rio Mambucaba e a sensação foi de aventura e medo, pois as águas estavam bem agitadas. Logo depois desse trecho avistamos a imponente Cachoeira do Veado com seus 210m de altura juntando as 3 quedas. Já foi considerada (hoje não é mais) a mais alta de São Paulo, a 7a mais alta do Brasil e com certeza está entre as mais bonitas na minha opinião.

Calcamento colonial Trilha do Ouro

Parte do Calçamento Colonial - Trilha do Ouro

Casa de Fazenda no caminho da trilha

Fazenda na Trilha do Ouro

Cachoeira dos Veados Serra da Bocaina

Cachoeira do Veado - Trilha do Ouro

Como era fevereiro e tinha chovido muito, não conseguimos chegar nem perto dela, pois o rio estava bem cheio e a correnteza assustadora. Resolvemos tomar banho num trechinho menos turbulento e não menos perigoso do rio, montamos acampamento numa clareira ali perto e dormimos ouvindo a força das águas. Coisa que hoje em dia eu não faria e não recomento a ninguém. Só depois de um tempo caiu a ficha do risco que corremos ficando ali perto do rio com tanta chuva. Mas há 7 anos atrás eu só senti um bom friozinho na barriga pelo camping selvagem e histórias de onças na região que me contaram!

Logo que amanheceu tomamos café e arrumamos tudo debaixo de uma insistente chuva que cairia o  resto do dia. E que dia. A partir da Cachoeira do Veado, começa uma longa descida em direção ao litoral. A mata nesse trecho é bem densa, um espetáculo. Infelizmente não apreciamos tanto quanto gostaríamos, pois estávamos cansados e molhados demais pra isso. O calçamento de pedras exige muita atenção na descida. A essa altura já tinha lama inclusive nas pedras, tornando a caminhada super íngreme mais problemática ainda. Todos se mantiveram introspectivos e o clima era de quero minha cama. Devido ao ritmo de cada um, o grupo acabou se separando e nos perdemos uns dos outros. Uma lição aprendida: mantenha o ânimo e a união do grupo, do contrário tudo fica mais difícil. Só sei que caminhamos horas e horas seguidas em silêncio.

Lembro que tínhamos saído do acampamento antes da 7 da manhã. Depois de mais um escorregão me senti fraca e não quis me levantar, pois até a lama parecia mais aconchegante naquele momento. Falei pro Gustavo que a gente precisava comer alguma coisa, já devia ser mais de meio dia. Ficamos chocados ao olhar no relógio e ver que era quase 4 da tarde!!! Sem a menor ideia de onde estávamos, se perto ou longe o fim da trilha, a gente engoliu umas bisnaguinhas com patê, umas barrinhas de cereal e apertamos (na medida do possível) a caminhada. Passadas quase duas horas encontramos algumas pessoas do nosso grupo, mas ninguém sabia onde estava o resto do nosso povo. Tínhamos uma notícia boa: a trilha estava no finalzinho e uma ruim: o resto do grupo sumiu! Foi um certo dilema, pois já estava bem tarde e seria perigoso esperar com noite caindo. Decidimos terminar a trilha já com 2 horas de atraso, pois havíamos combinado com o motorista da van as 17h e chegamos as 19h. Para alívio geral e também um pouco de raiva, os que tinham sumido já haviam chegado bem antes da gente e estavam na van descansando. Como não tinha sinal de celular, não foi possível avisar os outros. Discutimos um pouco mas logo o mal estar passou. Fomos então trocar de roupa e comer um belo de um PF em Mambucaba.

Voltamos pra casa capotados na van. Todo mundo quieto e calado. Tínhamos andado cerca de 42km com chuva e mochilas pesadas durante 3 dias. Não é para os fracos.

O ouro que encontramos foi o desejo de fazer mais aventuras como esta. A partir daí começamos a trilhar nossos caminhos como aventureiros, matas e montanhas acima e a dentro. Até hoje essa trilha nos serve de lição pra outras caminhadas longas que vieram depois e como não poderia ser diferente, pra vida.

Vista de parte da Serra da Bocaina 

Trilheiros na Trilha do Ouro

Como chegar

O Parque Nacional da Serra da Bocaina, (https://www.icmbio.gov.br/parnaserradabocaina/) está situado em um trecho da Serra do Mar, na divisa entre os estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Com 104 mil hectares, o parque é uma das maiores áreas protegidas de Mata Atlântica que existem. Além dos atrativos naturais, também são muitos os atrativos de interesse histórico e cultural, tanto do Período Colonial como os remanescentes da época dos tropeiros e das culturas caipira e caiçara.

Para chegar de ônibus, há linhas regulares entre São Paulo e Guaratinguetá (viações Cometa e Pássaro Marron, com partidas de hora em hora). Em Guaratinguetá pegar o ônibus até São José do Barreiro. Estando lá, você tem que fretar um carro pra subir até a portaria do parque. É bom entrar em contato e reservar antes de ir, bem como solicitar a autorização para pernoitar no parque.

 

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ica Desviantes:

A Trilha do Ouro termina na região de Paraty,  onde você pode fazer Rafting, Caiaque, Trilhas e Mergulhos

Passeios em Paraty  Clique aqui e confira nossas opções de atividades em Paraty

Silas Barbi

Praticante de trekking, escalada, mergulho livre e profissional de marketing por formação. Acredita em mundo com menos rotina e mais aventura. Suas duas paixões são o Brasil e a Natureza e não é por acaso que o seu principal objetivo de vida é levar as pessoas para conhecer as belezas naturais do Brasil.